quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Espírito Santo e as Missões


Neste artigo pensaremos juntos sobre a relação do Espírto Santo com a obra missionária, a clara ligação entre Sua manifestação em Atos 2 e Atos 13 e a promoção da evangelização aos de perto e aos de longe.
Se olharmos o panorama mundial da Igreja evangélica perceberemos que o crescimento evangélico foi 1.5 % maior que o Islã na ultima década. O Evangelho já alcançou 22.000 povos nestes últimos 2 milênios. Temos a Bíblia traduzida hoje em 2.212 idiomas. As grandes nações que resistiam o Evangelho estão sendo fortemente atingidas pela Palavra, como é o caso da Índia e China, que em breve deverão hospedar a maior Igreja nacional sobre a terra. Um movimento missionário apoiado pela Dawn Ministry plantou mais de 10.000 igrejas-lares no Norte da Índia na última década, em uma das áreas tradicionalmente mais fechadas para a evangelização. No Brasil menos evangelizado como o sertão nordestino, o norte ribeirinho e indígena, e o sul católico e espírita, vemos grandes mudanças na última década, com nascimento de novas igrejas, crescimento da liderança local e um contínuo despertar pela evangelização. No Brasil urbano a Igreja cresceu 267% nos últimos 10 anos. Apesar dos diversos problemas relativos ao crescimento e algumas questões de sincretismo que são preocupantes no panorama geral, vemos que o Evangelho tem entrado nos condomínios de luxo de São Paulo e nos vilarejos mais distantes do sertão, colocando a Palavra frente a frente com aquele que jamais a ouvira antes. Há um forte e crescente processo de evangelização no Brasil.

Duas perguntas poderiam surgir perante este quadro: qual a relaçao entre a expansao do Evangelho e a pessoa do Espírito Santo ? E quais os critérios para uma Igreja, cheia do Espírito, envolver-se com a expansão do Evangelho do Reino ?

Em uma macro-visão creio que esta relação poderia ser observada em três áreas distintas, porém, interrelacionadas: a essência da pessoa do Espírito e Sua função na Igreja de Cristo; a essência da pessoa do Espírito e Sua função na conversão dos perdidos; e por fim a clara ligação entre os avivamentos históricos e o avanço missionário.


A essência da pessoa do Espírito e sua função na Igreja de Cristo.

Em Lucas 24 Jesus promete enviar-nos um consolador, que é o Espírito Santo, e que viria sobre a Igreja em Atos 2 de forma mais permanente. Ali a Igreja seria revestida de poder. O termo grego utilizado para ‘consolador’ é ‘parakletos’ e literalmente significa ‘estar ao lado’. É um termo composto por duas partículas: a preposição ‘para’ - ao lado de - e ‘kletos’ do verbo ‘kaleo’ que signfica chamar. Portanto vemos aqui a pessoa do Espírito, cumprimento da promessa, habitando a Igreja, estando ao seu lado para o propósito de Deus.

Segundo John Knox a essência da função do Espírito Santo é estar ao lado da Igreja de Cristo, fazê-la possuir a Face de Cristo e espalhar o Nome de Cristo. Nesta percepção, O Espírito Santo trabalha para fazer a Igreja mais parecida com seu Senhor e fazer o nome do Senhor da Igreja conhecido na terra.

A essência da pessoa do Espírito e sua função na conversão dos perdidos.

Cremos que é o Espírito Santo quem convence o homem do seu pecado.
O homem natural sabe que é pecador porém apenas com a intervenção do Espírito ele passa a se sentir perdido. Há uma clara, e funcional, diferença entre sentir-se pecador e sentir-se perdido. Nem todo homem convicto de seu pecado possui consciência de que está perdido, portanto, necessitado de redenção. Se o Espírito Santo não convencer o homem do pecado e do juizo, nossa exposição da verdade de Cristo não passará de mera apologia humana.

A Igreja plantada mais rapidamente em todo o Novo Testamento foi plantada por Paulo em Tessalônica. Ali o apóstolo pregava a Palavra aos sábados nas sinagogas e durante a semana na praça e o fez durante 3 semanas, nascendo ali uma Igreja. Em 1º Tess. 1:5 Paulo nos diz que o nosso evangelho não chegou até vos tão somente em palavra (logia, palavra humana) mas sobretudo em poder (dinamis, poder de Deus), no Espírito Santo e em plena convicção (pleroforia, convicção de que lidamos com a verdade).

O Espírito Santo é destacado aqui como um dos três elementos que propiciou o plantio da igreja em Tessalônica. Sua função na conversão dos perdidos, em conduzir o homem à convicção de que é pecador e está perdido, sem Deus, em despertar neste homem a sede pelo Evangelho e atraí-lo a Jesus é clara. Sem a ação do Espírito Santo a evangelização não passaria de apologia humana, de explicações espirituais, de palavras lançadas ao vento, sem público, sem conversões, sem transformação.


A clara ligação entre os avivamentos históricos e os movimentos missionários.


Se observarmos os ciclos de avivamentos perceberemos que a proclamação da Palavra torna-se uma consequência natural desta ação do Espírito. Vejamos.

Fruto de um avivamento, a partir de 1730 John Wesley durante 50 anos pregou cerca de 3 sermões por dia, a maior parte ao ar livre, tendo percorrido 175.000 km a cavalo pregando 40.000 sermões ao longo de sua vida.

Fruto de um avivamento, em 1727 a Igreja moraviana passa a enviar missionários para todo o mundo conhecido da época, chegando ao longo de 100 anos enviar mais de 3.600 missionários para diversos países.

Fruto de um avivamento, em 1784, após ler a biografia do missionário David Brainard, o estudante Wiliam Carey foi chamado por Deus para alcançar os Indianos. Após uma vida de trabalho conseguiu traduzir a Palavra de Deus para mais de 20 línguas locais e sua influência permanece ainda hoje.

Fruto de um avivamento, em 1806 Adoniram Judson tem uma forte experiência com Deus e se propõe a servir a Cristo, indo depois para a Birmânia, onde é encarcerado e perseguido durante décadas, mas deixa aquele país com 300 igrejas plantadas e mais de 70 pastores. Hoje, Myamar, a antiga Birmânia, possui mais de 2 milhões de cristãos.

Fruto de um avivamento, em 1882 Moody pregou na Universidade de Cambridge e 7 homens se dispuseram ao Senhor para a obra missionária e impactaram o mundo da época. Foram chamados “os 7 de Cambridge”, que incluía Charles Studd (sua biografia publicada no Brasil chama-se “O homem que obedecia”). Foi para a África, percorreu 17 países e pregou a mais de meio milhão de pessoas. Fundou A Missão de Evangelização Mundial (WEC International) que conta hoje com mais de 2.000 missionários no mundo.

Fruto de um avivamento, em 1855 Deus falou ao coração de um jovem franzino e não muito saudável para se dispor ao trabalho transcultural em um país idólatra e selvagem. Vários irmãos de sua igreja tentavam dissuadí-lo dizendo: “para que ir tão longe se aqui na América do Norte há tanto o que fazer ?” Ele preferiu ouvir a Deus e foi. Seu nome é Simonton (1833-1867) que veio ao nosso país e fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil.

Fruto de um avivamento, em 1950 no Wheaton College cerca de 500 jovens foram chamados para a obra missionária ao redor do mundo. E obedeceram. Dentre eles estava Jim Elliot que foi morto tentando alcançar a tribo Auca na Amazônia em 1956. A partir de seu martírio houve um grande avanço missionário em todo o mundo indígena, sobretudo no Equador. Outro que ali também se dispôes para a obra missionária foi o Dr Russel Shedd que é tremendamente usado por Deus em nosso país até o dia de hoje.

Tendo em mente, nesta macro-estrutura, os três níveis de relação entre o Espírito Santo e as Missões, podemos observar alguns valores bíblicos sobre este tema, revelados em Atos 2, durante o Pentecoste.

O Pentecoste e as Missões


O Espírito Santo é a pessoa central no capítulo 2 de Atos e Lucas é justamente o autor sinóptico que mais fala sobre Ele utilizando expressões como “ungido” pelo Espírito, ou “poder” do Espírito ou ainda “dirigido” pelo Espírito (Lc 3:21; 4:1, 14, 18) demonstrado que na teologia Lucana o Espírito Santo era realmente o ‘Parakletos’ que viria.

O Pentecoste, dentre todas as festas judaicas, era, segundo Julius, o evento mais frequentado e acontecia sob clima de reencontros já que judeus que moravam em terras distantes empreendiam nesta época do ano longas jornadas para ali estar no quinquagésimo dia após a páscoa.

Chegamos ao momento do Pentecoste. Fenômenos estranhos aos de fora e incomuns à Igreja aconteceram neste momento e a Palavra os resume falando sobre um som como “vento impetuoso” (no grego ‘echos’, usado para o estrondo do mar); “línguas como de fogo” que pousavam sobre cada um, “ficaram cheios do Espírito Santo” e começaram a falar “em outras línguas”. Lucas fecha a descrição do cenário com a expressão no verso 4: “segundo o Espírito lhes concedia”.

Outras línguas. O texto no versículo 4 utiliza o termos eterais glossais para afirmar que eles falaram em outras glosse , línguas, expressão usada para línguas humanas, idiomas. Mas, a fim de não deixar dúvidas, no versículo 8, o texto nos diz que cada um ouviu em sua “própria língua” usando aqui o termo dialekto que se refere aos dialetos ali presentes. As línguas faladas, e ouvidas, portanto eram línguas humanas e não línguas angelicais, neste texto em particular, no Pentecoste. Mas onde ocorreu o milagre? Naquele que falou ou nos ouvidos dos que ouviram ? É possivel que tenha sido nos ouvidos dos que ouviram pois a mensagem, pregada, foi compreendida idia dialekto - no próprio dialeto de cada um. O certo, porém, é que Deus atuou sobrenaturalmente a fim de que a mensagem do Cristo vivo fosse compreendida, clara e nitidamente, por todos os ouvintes.

Em meio a este momento atordoante (vento, fogo, som, línguas) o improvável acontece. Aquilo que seria apenas uma festa espiritual interna para 120 pessoas chega até as ruas. O caráter missiológico do evangelho é exposto. O Senhor com certeza já queria demonstrar desde os primeiros minutos da chegada definitiva do Espírito sobre a Igreja que este poder – dinamis de Deus - não havia sido derramado apenas para um culto cristão restrito, a alegria íntima dos salvos ou confirmação da fé dos mártires.

O plano de Deus incluía o mundo de perto e de longe em todas as gerações vindouras e nada melhor do que aquele momento do Pentecoste quando 14 nações, ali presentes e, no meio desta balbúrdia da manifestação de Deus, cada uma – milaculosamente – passou a ouvir o Evangelho em sua própria língua.

Era o Espírito Santo mostrando já na sua chegada para o que viria: conduzir a Igreja a fazer Cristo conhecido na terra. Em um só momento Deus fez cumprir não apenas o “recebereis poder” mas também o “sereis minhas testemunhas”. A Igreja revestida nasceu com uma missão: testemunhar de Jesus.

Daí muitos se convertem e a Igreja passa de 120 crentes para 3.000, e depois 5.000. Não sabemos o resultado daqueles representantes de 14 povos voltando para suas terras com o Evangelho vivo e claro, em sua própria língua, mas podemos imaginar o quanto o Evangelho se espalhou pelo mundo a partir deste episódio. Certamente o primeiro grande movimento de impacto transcultural da Igreja revestida.

No verso 37 lemos que, após o sermão de Pedro, em que anuncia Cristo, “ouvindo eles estas coisas, compugiu-se-lhes o coração” e o termo usado aqui para compungir vem de katanusso, usado para uma “forte ferroada” ou ainda “uma dor profunda que faz a alma chorar”. A Palavra afirma que “naquele dia foram acrescentadas quase três mil almas”. O Espírito Santo usando o cenário do Pentecoste para alcançar homens de perto e de longe.

Podemos retirar daqui algumas conclusões bem claras. Uma delas é que a presença do Espírito Santo leva a mensagem para as ruas, para fora do salão e alcança apenas pelos quais o sangue de Cristo foi derramado. Desta forma é questionável a maturidade espiritual de qualquer comunidade cristã que se contente tão somente em contemplar a presença do Senhor. A presença do Espírito, de forma genuína, incomoda a Igreja a sair de seus templos e bancos. A Não se contentar tão somente com uma experiência cúltica aos domingos. A procurar, com testemunho Santo e uso da Palavra de Deus, fazer Cristo conhecido aos que estão ao seu redor.

Havia naquele lugar, ouvindo a Palavra de Deus através de uma Igreja revestida de Poder pelo Espírito Santo, homens de várias nações distantes, judaizantes, além de judeus de perto, que moravam do outro lado da rua. De terras distantes, o texto, Atos 2: 9 a 11, registra que havia “nós, partos, medos, e elamitas; e os que habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes-ouvímo-los em nossas línguas, falar das grandezas de Deus”. Uma Igreja revestida da Espírito deve abrir seus olhos também para os que estão longe, além barreiras, além fronteiras, nos lugares improváveis, onde Cristo gostaria que fôssemos.

Que efeitos objetivos na construção do caráter da Igreja produziu a presença marcante e transformadora do Espírito ?

A ação do Espirito Santo não produz uma Igreja enclausurada

Esta Igreja cheia do Espírito Santo passa a crescer onde está e em Atos 8 o Senhor a dispersa por todos os cantos da terra. E diz a Palavra que, “os que eram dispersos iam por toda parte pregando a Palavra”. Vicedon nos ensina que uma Igreja cheia do Espírito é uma igreja missionária, proclamadora do Evangelho, conduzida para as ruas.


A ação do Espírto Santo não produz uma Igreja segmentada


Após a ação do Espírito sobre os 120, depois 3.000, depois 5.000, não houve segmentação, divisão, grupinhos na comunidade. Certamente eles eram diferentes. Alguns preferiam adorar a Deus no templo, outros de casa em casa. Alguns mais formais, judeus e judaizantes, outros bem informais, gentios. Alguns haviam caminhado com Jesus. Outros não o conheceram tão de perto. Mas esta Igreja possuía um só coração e alma, como resultado direto do Espírito Santo. Competições, segmentações, grupinhos, portanto, são uma clara demonstração de carnalidade e necessidade de busca de quebrantamento e entrega a ação do Espírito na vida da Igreja.

A ação do Espírito Santo não produz uma Igreja autocentrada


Certamente uma Igreja que havia experimentado o poder de Deus, de forma tão próxima e visível, seria impactada pelo sobrenatural. Porém, quando a ação sobrenatural é conduzida pelo Espírito Santo a única pessoa que se destaca é Jesus, a única pessoa exaltada é Jesus, a única que aparece com louvores é Jesus. Esta Igreja que experimentou o Espírito no Pentecoste passa, de forma paradoxal, a falar menos de sua própria experiência e mais da pessoa de Cristo. O egocentrismo eclesiástico não é compatível com as marcas do Espírito.

Creio, assim, que nossa herança provinda do Pentecoste precisa nos levar a sermos uma Igreja nas ruas (não enclausurada), uma Igreja Cristocêntrica com amor e tolerância entre os irmãos (não segmentada ou partidária), uma Igreja cuja bandeira é Cristo, não ela mesma (não egocêntrica), e por fim uma Igreja proclamadora, que fala de Cristo perto e longe. Que as marcas do Pentecostes continuem a se manifestar entre nós.

O Cenário Indígena Brasileiro e a Atuação Missionária Evangélica


Vivemos em um país onde há oficialmente 257 etnias indígenas perfazendo uma população aproximada de 700.000 pessoas. Segundo o pesquisador Paulo Bottrel apenas 4 etnias (Katuena, Mawayana, Wai-Wai e Xereu) possuem a Bíblia completa em seus idiomas, 34 dispõe do Novo Testamento e outras 59 contam com porções bíblicas. Apesar das 25 Agências Missionárias que bravamente atuam entre os índios em nosso país, ainda contamos com um vasto campo que necessita do evangelho: 103 grupos permanecem sem presença missionária e 180 não possuem uma igreja local entre eles.

É certo que o desafio vai muito além das estatísticas e das palavras, pois é composto por faces, vidas, histórias e culturas milenares as quais tem sofrido ao longo dos séculos a devassa dos conquistadores, a forte imposição sócio-economica, etnofagias e perdas culturais irreversíveis.

Em meio a todo este quadro há gritante necessidade de homens e mulheres que se disponham a encarar a transmissão do evangelho valorizando o homem e sua cultura dentro de uma esfera de compreensão lingüística e aplicabilidade social, o que envolve o ultrapassar de várias barreiras. Uma delas é o estudo, registro, preservação, uso e valorização das línguas maternas.

O Apelo das Minorias

No contexto sul-americano nosso país possui a maior densidade lingüística e diversidade genética e, paradoxalmente, uma das menores concentrações demográficas por língua falada. As 185 línguas indígenas são distribuídas em 41 famílias, dois troncos e uma variedade desconhecida de línguas isoladas . Em meio a esta gritante diversidade apenas 3 etnias (Tikuna, Kaingang e Kaiwá) possuem mais de 20.000 pessoas e a média de falantes por língua é de 196 pessoas. 53 povos têm menos de 100 indivíduos e há aqueles com menos de 10 representantes como os Akunsu, com 7 pessoas, os Arua com 6 e os Juma também com 7 indivíduos. Quando pensamos em grupos indígenas nos confrontamos com a realidade de povos minoritários.

Nos anos 80 pesquisadores do Museu Goeldi encontraram os dois últimos falantes do Puruborá. Em 1995 foi identificado um grupo arredio como sendo falante do até então desconhecido Canoê e Pierre Grenand reconhece a existência de 52 grupos ainda sem contato com o mundo exterior cujas línguas não foram estudadas, praticamente todas minoritárias.

O Brasil evangélico não indígena, por sua vez, experimenta desde os anos 80 um rápido crescimento tanto em número de templos como de convertidos, motivo de louvor a Deus. Isto por outro lado têm nos levado a desenvolver uma missiologia mais pragmática, que cultua os resultados, do que Escriturística, que valoriza a obediência à Palavra. Assim, tanto a expectativa missionária por parte do corpo evangélico nacional quanto a prática no plantio de igrejas valoriza o quantitativo. E isto não será encontrado no universo indígena pois a conversão de toda uma tribo pode representar, em alguns casos, apenas uma dúzia de pessoas. Precisamos ser relembrados do desejo de Jesus: tornar-se conhecido dentre todos os povos, tribos línguas e nações da terra e isto jamais acontecerá enquanto não evangelizarmos os grupos minoritários. Precisamos de uma Igreja apaixonada por Jesus e disposta a gastar tempo e recursos no preparo de seus obreiros a fim de fazer o evangelho de Cristo conhecido entre todos os povos, também os minoritários. É preciso encarnar a conceito bíblico sobre o valor de uma alma. Vale mais que o mundo inteiro.

O Apelo da Subsistência Lingüística

Michael Kraus afirma que 27% das línguas sul-americanas não são mais aprendidas pelas crianças. Significa que um número cada vez maior de crianças indígenas perde seu poder de comunicação a cada dia. Isto possui raízes diferenciadas que vão desde a imposição socioeconômica nas tribos mais próximas dos vilarejos e povoados até a falta de uma proposta educacional na língua materna, fazendo-os migrar para o Português ou outra língua indígena predominante na região.

Rodrigues estima que, na época da conquista, eram faladas 1273 línguas, ou seja, perdemos 85% de nossa diversidade lingüística em 500 anos. Luciana Storto delata uma crise sociolingüística no estado de Rondônia onde 65% das línguas estão seriamente em perigo por não serem mais usadas pelas crianças e por terem um numero pequeno de falantes.

Precisamos perceber que a perda lingüística está associada a perdas culturais irreparáveis como a transmissão do conhecimento, formas artísticas, tradições orais, perspectivas ontológicas e cosmológicas. Perde-se também a ponte de comunicação para um pleno entendimento do evangelho. No processo de perda lingüística e migração para o Português, os grupos indígenas normalmente passam por um processo de adaptação quando não possuem mais fluência na antiga língua materna e também não aprenderam o suficiente do novo idioma, para uma comunicação mais profunda. Este é um momento de perigo e perdas quando a identidade indígena é auto-questionada, seus valores substituídos e, sobretudo, seu poder de comunicação diminuído. A presença missionária catalogando, analisando e registrando a língua indígena a valoriza perante seu próprio povo e abre caminho para sua preservação. O evangelho, assim, não apenas responde os questionamentos da alma mas contribui para a sobrevivência cultural.

O Apelo da Tradução Bíblica

‘Se Deus nos ama, porquê Ele não fala a nossa língua ?’ Estas palavras impactaram a mente de William Cameron Towsend quando trabalhava com o povo Cakchiquel da Guatemala desde 1919. Após ser despertado para a necessidade de comunicar o evangelho na língua materna de cada povo ele se dispôs a fundar a SIL (Sociedade Internacional de Lingüística) que atua perseverantemente na tradução das Escrituras. Mas esta não é apenas uma preocupação moderna. Martinho Lutero, reformador protestante, percebeu rapidamente a incapacidade da Igreja conhecer a Deus sem conhecer a Palavra e, assim, lançou em 1534 a primeira edição da Bíblia por ele traduzida, e em linguagem comum alemã.

A força missionária tem sido ao longo das décadas um divisor de águas na subsistência das línguas indígenas brasileiras sob o esforço da SIL , Missão Novas Tribos do Brasil, ALEM e JOCUM, além de outras Agências que bravamente se empenham nesta tarefa. Apesar do contigente missionário ser formado em maior parte por Brasileiros, devemos reconhecer que os resultados historicamente obtidos nesta área advém do esforço de muitos preciosos linguístcas estrangeiros que valorosamente trabalharam e trabalham na análise e grafia lingüística, e tradução da Palavra para vários idiomas, como o caso do missionário Robert Hawkins que dedicou 54 anos de sua vida traduzindo a Bíblia completa para a língua Wai-Wai. Louvado seja Deus.

O presente apelo é por mais obreiros (estrangeiros, brasileiros e indígenas), que tenham desejo de se esmerar no estudo lingüístico e se preparar da melhor forma possível para transmitir o evangelho para estes 180 grupos onde ainda não há, entre eles, uma igreja genuinamente indígena.

Conclusão

Alguns anos atrás, quando estávamos integralmente envolvidos com a evangelização dos Konkombas em Gana na África, participei de uma conferência em Chicago onde se reuniam missiólogos e missionários de boa parte do mundo. Muitos temas eram estudados mas sobretudo havia oportunidade para desafios missionários nas preleções da noite. Em minha sessão, falando sobre povos ainda não alcançados, tentei confrontar o auditório com um silogismo bíblico de responsabilidade na comunicação do evangelho dizendo: ‘... em Gana a Igreja fortemente expressiva no sul do país ainda não se despertou para as quase 100 tribos não alcançadas ao norte, dentre elas os Konkombas-Bimonkpeln com os quais trabalhamos. Infelizmente ainda é necessário o envio de missionários estrangeiros para o alcance das tribos ao norte porque a Igreja dorme’.

Na preleção a seguir um norte americano falaria sobre o desenvolvimento de igrejas autóctones. Ele iniciou seu sermão mais ou menos da seguinte forma: ‘Fui missionário por mais de 20 anos na Amazônia brasileira entre indígenas ainda não alcançados, pois apesar da existência de milhões de evangélicos naquele país não havia missionários suficientes. Isto porquê a Igreja dorme’.

Apesar do constrangimento reconheci, infelizmente, que suas palavras não estavam tão longe da verdade. É preciso mudar.

Ronaldo Lidório
ronaldo.lidorio@terra.com.br

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Em Defesa de David Wilkerson


Andrew Strom

Tradução de João A. de Souza Filho

Um vasto segmento do moderno movimento profético americano se opõe a David Wilkerson e às suas declarações. Costumam descrevê-lo como “mercador de tragédias”, porque ele alerta os cristãos americanos das iminentes catástrofes que virão e conclama a nação ao arrependimento.

Numa carta que me foi enviada por um amigo tempo atrás – que havia deixado o movimento profético e retornado a uma igreja pentecostal – ele me disse: “Se eu mencionar o nome de David Wilkerson eles ficam zangados e irados comigo”. Não é triste isto?

Apesar de David Wilkerson alertar a sociedade americana de futuros cataclismos, exatamente como os que temos presenciado – ele é mal-interpretado e denegrido. Tudo porque Wilkerson costuma conclamar os cristãos americanos ao arrependimento. E ele não fica acariciando os “profetas” da prosperidade.

Quando a mensagem “Deus quer que você fique rico” começou a ser pregada por todos os Estados Unidos, David foi um dos poucos que levantou sua voz conclamando o povo ao arrependimento do “amor ao dinheiro”. Ele passou a ser odiado por isto. Especialmente porque é incisivo e franco a respeito deste assunto.

Quando a “bênção de Toronto” surgiu enchendo as igrejas de manifestações bizarras – ele falou contra e disse a verdade do que estava acontecendo. Ele foi um dos poucos – se não o único – líder pentecostal que se posicionou publicamente e refutou este novo “espírito” que invadiu as igrejas. Imagine o quanto David foi desprezado por isto.

Existe um movimento “profético” hoje no mundo que, em minha opinião, seus líderes não deveriam usar o nome de “profetas”. É um movimento de avivamento que vende caminhões de livros e vive de conferências, mas que não tem nada de profético. Mantém sua popularidade porque prega mensagens inspiradas de auto-ajuda. Não se ouve entre eles vozes como a de Amós ou de Jeremias, muito menos a de João Batista. Seus pregadores acariciam as pessoas e não confrontam a vida de pecado que levam.

Muitos desses movimentos têm uma mensagem crônica contra o “espírito religioso”. Os freqüentadores desses encontros vêem espíritos de legalismo e de farisaísmo por toda parte. Por isso, falam apenas sobre “graça, graça, e graça”. As palavras “pecado, justiça e juízo” sumiram de seus glossários, pois têm medo de serem tachados de “religiosos”. Por isso, quando cruzam com um profeta que prega contra o pecado, que fala de retidão e do juízo final – as mesmas coisas que Jesus afirmou que o mundo despreza – eles o rejeitam. Todo verdadeiro profeta sobre os quais li ou com os quais me encontrei pregaram contra o pecado, falaram de retidão e de juízo final. Finney, Wesley, Whifield, Jonathan Edwards, etc.

Criamos um novo sentido para o termo “profético” nos dias de hoje que está bem abaixo dos padrões bíblicos e longe do padrão necessário para quem busca avivamento. Creio que foi Jeremias que criou o termo “profetas sonhadores”. A América não precisa deste tipo de profeta em seus momentos de crise. Precisamos de vozes que falem a verdade, e que alertem o povo, não importa o custo que advir daí. Precisamos de vozes como de trombetas!

David Wilkerson é uma dessas trombetas! Ele é como uma voz solitária – felizmente sua mensagem tem chegado bem longe! Creio que Deus o colocou em Nova Iorque para este tempo – a cidade vive do jogo político (as Nações Unidas), do poder financeiro e do poder da mídia. Creio que David é o “homem de Deus” naquela cidade. E se ele prega que O ARREPENDIMENTO é a mensagem de Deus para a América nestes dias, prefiro crer nele a dar ouvidos a qualquer profeta de palavras açucaradas que ecoam a favor da “prosperidade” e do enriquecimento dos crentes. Prefiro ouvir o homem que tem a mensagem certa para estes dias.

David odeia o pecado e o engano, e ama o povo, por isso sua voz não pode ser silenciada. Esta é a marca de um profeta. Continue David!

Fonte: www.revivalschool.com